"Numa tribo indígena a filha do Tuxaua deu à luz a uma menina branca como leite. O Chefe quis matar a filha, mas um moço branco lhe apareceu em sonho e lhe disse que a mãe da criança não era culpada. A criança logo depois que nasceu começou a andar e falar. Mas não viveu muito tempo. Antes de completar um ano, morreu sem ter adoecido. O Tuxaua mandou enterrá-la na própria aldeia, e a mãe todos os dias lhe regava a sepultura, sobre a qual nascera uma planta que deu flores e frutos. Os pássaros que os comiam ficavam embriagados. Certa vez a terra abriu-se ao pé da planta e apareceram as raízes. Os índios as colheram e viram que eram brancas como o corpo de Mani, e deram o nome de “Maníoca” (casa de Mani) ou corpo de Mani. E à planta deram o nome de “maniva” (Mandioca)."

Lendas como esta são histórias narradas no seio da sociedade indígena para doutrinar seus membros. A mitologia indígena está povoada de seres encantados e sobrenaturais que habitam as matas, os rios, igarapés, igapós, e protegem os animais. São lendas fantásticas cheias de mistério sobrenatural ligadas à feitiçaria e à magia. Talvez ainda não nos tenhamos dado conta, mas a nossa cultura tida como “lusa” – ou originalmente européia – está povoada dessas lendas e mistérios sobrenaturais.

A expressividade cultural desses povos tem suas crenças e raízes ancestrais refletidas em sua arte que, por sua vez, se confunde à vida cotidiana através dos objetos utilitários, da cerâmica, dos trabalhos em madeira, da pintura, da cestaria, da arte plumária, da pintura ritual dos corpos e adornos.

Segundo Semira Adler, Pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco:

A partir do século XVI [...] Vieram portugueses, hebreus e escravos africanos [...] Chegaram holandeses, franceses e indivíduos de várias outras nacionalidades. Os colonizadores lusos trouxeram a religião católica; os judeus a religião mosaica; e os escravos e sacerdotes africanos as religiões anímicas. No país, encontraram os povos indígenas com crenças e cultos totêmicos, que invocavam seus antepassados e os deuses na natureza.

Ainda segundo a pesquisadora:

[...] a Doutrina Espírita só foi introduzida na segunda metade do século XIX. Com a mudança da família real portuguesa e a abertura dos portos, vieram os ingleses com a igreja Anglicana e o Luteranismo. Posteriormente, surgiram as Igrejas Congregacional e Presbiteriana, a Igreja Batista, a Congregação Cristã, a Assembléia de Deus e as igrejas neopentecostais.

O que realmente aconteceu é que durante todo esse processo de colonização o povo nordestino nasceu de fato, pois, até então a região era ocupada pelas nações indígenas e pela primeira vez na história o índio, primeiro representante do povo brasileiro, passou a ter contato com novos povos e novas culturas.

Esse contato entre os povos colaborou para o surgimento da cultura nordestina como é hoje: rica e diversificada. Seu folclore e artesanato são o resultado de uma criatividade popular que se manifesta sob as mais variadas formas. Para provar o sabor da cultura local basta apreciar a culinária e a arquitetura que logo encontraremos traços das influências desses povos.

A contribuição dos novos povos para a criação do imaginário nordestino também foi de suma importância. A chegada dos colonizadores e dos negros trazidos da África contribuiu para a disseminação, bem como para o surgimento de novas crenças.

De acordo com Getúlio César (1941?, p. 89), os brasileiros são:

um povo extremamente crédulo e de uma credulidade pueril. Basta dizer que o grito da coruja é considerado como mau agouro porque ele corta mortalha no seu canto sentimental; sapato com o solado para cima está chamando o dono para a cova;… tesoura aberta aguarda cortar a mortalha de quem assim a deixou;…vender sal à noite trás caiporismo; um enterro que pára em frente de uma casa é sinal de que ali vai morrer alguém… Euclides da Cunha nos Sertões diz que a primeira coluna que seguiu para Canudos, saiu de Juazeiro no dia 12 de novembro, à noite, para não sair a 13, dia asiago (sic). E ia combater o fanatismo.

Apesar de tanta diversidade, o nordeste desenvolveu uma cultura única se consideramos que diferentemente do resto do país, somente as três raças fundadoras de nossa nação (o negro africano, o branco português e o índio americano) permaneceram com forte influência na região. Enquanto que outras regiões do país foram fortemente influenciadas por italianos, alemães, japoneses etc.

O nordeste se desenvolveu e se transformou num imenso caldeirão étnico. Composto por crenças, ritos, lendas, mistérios sobrenaturais, cultos e religiões; e independente de estarem vinculadas a esta ou aquela igreja, templo, centro ou terreiro, o povo nordestino ainda é fiel e credita certos feitos, curas ou “milagres” ao poder dos orixás, mestres, benzedeiros, curandeiros e rezadeiras junto às forças sobrenaturais.


REFERÊNCIAS:
MACHADO, Regina Coeli Vieira. Lendas Indígenas. Pesquisa Escolar Online. Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar>. Acesso em: 01/04/2009.
VAINSENCHER, Semira Adler. Crenças populares daqui e dali. Pesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>. Acessado em: 01/04/2009.

Considerações:
1) Esse texto foi organizado por mim no dia 1 de abril de 2009, originalmente publicado no blog brunocosta.wordpress.com e acabou servindo de fonte para outros autores. Quando da republicação passou por pequena revisão gramatical.